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O Que é a Sexualidade?
A visão de que a sexualidade está apenas relacionada com as relações sexuais, com a reprodução e com os órgãos genitais é uma visão muito reducionista. Desde o momento em que ocorre a fecundação inicia-se o nosso processo de sexualização que determina o modo diferente de viver o facto de sermos sexuados como homem ou como mulher. Cada uma das células do corpo é sexuada (xy ou xx) e transporta uma herança genética que se manifesta, entre outros aspectos, na regulação hormonal, no desenvolvimento dos órgãos genitais internos e externos, na diferenciação sexual do cérebro e no diferente desenvolvimento corporal do rapaz e da rapariga. Por esta razão podemos dizer que a sexualidade tem uma dimensão biológica. O sexo refere-se aos aspectos biológicos, ao facto físico de se ser homem ou mulher, enquanto o género (papel sexual) se refere à forma como nos comportamos em sociedade, pelo facto de sermos homens ou mulheres. A masculinidade e feminilidade reflectem os costumes e os estereótipos sociais sobre o que é ser masculino e feminino.
Segundo Lopés e Fuertes (1999) na sexualidade infantil (antes da puberdade) os órgãos genitais estão pouco desenvolvidos e os caracteres sexuais secundários ainda não iniciaram o seu desenvolvimento. A quantidade de hormonas sexuais que circula no sangue é muito pequena quando comparada com a vida adulta, por isso, por razões hormonais e sociais o prazer sexual é menos específico na infância. As crianças, especialmente as mais pequenas, não atribuem um significado sexual a muitas das sensações tidas por sexuais nos adultos. Os estímulos externos que têm para o adulto um significado erótico não são objecto de atracção sexual durante a infância ou, pelo menos, não o são de uma forma tão clara e consistente. A orientação do desejo não se específica e consolida até à puberdade - adolescência.
Antes do ano e meio, dois anos as crianças não distinguem o sexo do género e classificam-se sobretudo a partir das características de género, isto é, pelo facto de vestirem calças ou vestido, usarem ou não pulseiras e colares, etc.. Por volta dos dois anos têm interesses socialmente aceites como próprios de meninos ou meninas e antes dos três anos usam com bastante correcção os pronomes pessoais. A partir dos três anos conseguem classificar-se a si próprios como menino ou menina e recorrem com frequência à sua identidade de menino ou menina para rejeitar ou aceitar roupas ou brinquedos, valorizando o que a sociedade aceita como mais adequado e positivo para o menino ou menina dizendo, por exemplo, não quero a boneca, eu sou um menino. As crianças vão mostrando que estão a aprender o que lhes vão ensinando desde o nascimento: o nome; o sexo; o tipo de roupa; os gestos; os conceitos; e os comportamentos sexuais, por exemplo, os pais por vezes dizem: não toques no pipi!. Esta definição da sua identidade é muito importante porque leva as crianças a comportarem-se de acordo com o que é socialmente desejado e a aceitar quem se comporta como elas ou a afastar quem tem comportamentos diferentes, isto é, os meninos tendem a formar grupos de meninos e as meninas de meninas, embora isto não queira dizer que não valorizem a amizade com o sexo oposto. Segundo López e Fuertes (1999) nestas idades a sua classificação como menino ou menina tem duas grandes limitações. Em primeiro lugar, definem a sua identidade sexual não pela anatomia, mas pela roupa, brinquedos ou adornos, por isso, um menino pode acreditar que se vestisse um vestido de menina, uns brincos e uns sapatos de menina seria uma menina. Em segundo lugar, as crianças do pré-escolar acreditam que os mais crescidos podem mudar a sua identidade sexual, por exemplo, imaginam com facilidade que os meninos poderiam ser mamãs e as meninas papás.
A partir dos 5, 6 anos as crianças pouco a pouco vão tomando consciência da permanência da sua identidade sexual e de género e a partir dos sete, nove anos dão prioridade aos órgãos genitais como o elemento que define a identidade sexual. O processo de aquisição da identidade sexual e identidade de género (forma de viver o papel sexual ou de género) está relacionado com o nível de desenvolvimento, que depende da idade. Segundo López e Fuertes (1999) à medida que as crianças desenvolvem a linguagem e o conceito de tempo também vão sendo, cada vez mais, capazes de discriminar as diferenças do papel de género e reconhecer-se como menino ou menina para toda a vida, independentemente das aparências superficiais. À medida que adquirem um maior nível de desenvolvimento, também são mais capazes de discriminar o que muda e é cultural (o papel sexual ou a identidade de género) do que é estável e biologicamente condicionado (a identidade sexual). Esta distinção é fundamental para poder, a partir dela, criticar os elementos de exploração e desigualdade que estão presentes nos papéis sexuais, porque assim o quer a sociedade e, por isso, podem ser mudados. Entre os 6 e os 10-12 anos as crianças já são capazes de manipular objectos e controlar os seus movimentos com alguma precisão. Intelectualmente são capazes de manipular a realidade concreta classificando as coisas e estabelecendo relações entre elas. A sua linguagem está perfeitamente desenvolvida e do ponto de vista social adquiriram uma certa capacidade de independência dos pais e interiorizaram muitas normas sociais e morais, tendo um certo controlo sobre as suas condutas e estabelecendo as primeiras amizades. Geralmente, as crianças desta idade aprendem com facilidade e aceitam os critérios dos adultos sem se oporem. Do ponto de vista sexual, os pais, os professores, os amigos, os livros infantis, a televisão, etc. continuam a atribuir aos meninos e às meninas um papel sexual (identidade de género) determinado, exercendo um controlo do comportamento sexual, ao premiar ou castigar determinadas manifestações sexuais. Também modelam a sua conduta sexual através dos exemplos dados pelos pais, professores, personagens da literatura infantil, etc.. Portanto, durante este período há muita educação sexual. Neste período as crianças tomam consciência que a sua identidade sexual permanecerá para toda a vida, descriminam melhor o papel sexual e aumentam o seu interesse pelas questões sexuais, interiorizam elementos essenciais da moral sexual adulta e alguns descobrem o prazer da masturbação. A identidade sexual e de género adquirirá a sua maturidade durante a adolescência.
Os nossos desejos e comportamentos sexuais também dependem, em parte, das hormonas sexuais, cuja regulação varia em função da nossa idade e sexo. Na puberdade, os factores hormonais e neurohormonais cujo funcionamento depende de factores genéticos e constitucionais, do sexo, da alimentação e dos factores étnicos, desencadeiam um grande desenvolvimento corporal e o aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Esta grande mudança física desencadeia, do ponto de vista psicológico e social, uma nova imagem corporal e a redefinição da identidade de género, em função da nova imagem e das novas funções sexuais adquiridas. A aceitação da nova imagem deve ser baseada num conceito de beleza activo, que associa a nova imagem do corpo ao desenvolvimento de valores e qualidades que sejam atraentes e sedutores para os outros e para si mesmo e à valorização de uma nova capacidade da sexualidade: a capacidade de decidir se se quer reproduzir ou não. Na adolescência, existem mudanças na sexualidade a três níveis: na redefinição da identidade de género; no aparecimento e configuração do desejo sexual; e na evolução dos afectos relacionados com a sexualidade.
Também por causa das mudanças biológicas que ocorrem na puberdade aumenta consideravelmente a taxa de testosterona (hormona sexual) que é um potente regulador do desejo sexual. Nesta altura aparece o erotismo puberal. Levine (1988, 1992 segundo Zapian et al, 1997) descreve que o desejo sexual é constituído por três elementos moderadamente independentes:
o impulso (drive), representa a base biológica do desejo sexual. Nós herdamos os elementos anatómicos, fisiológicos e neuroendócrinos que regulam o comportamento sexual e que geram predisposições comportamentais perante estímulos eróticos. A testosterona é a hormona relacionada com o desejo sexual em ambos os sexos. Portanto, o impulso corresponde à activação do desejo que se pode gerar a partir da própria dinâmica biológica, ou induzir-se a partir de determinados estímulos eróticos;
o motivo (motive), é a articulação psicológica do impulso sexual, porque representa a disposição para a actividade sexual. Manifesta-se pela integração do impulso na personalidade e supõe a aceitação e o consentimento da activação sexual, isto é, é a disposição face ao erótico. Esta disposição depende da própria história sexual e de como foi a sua socialização no contexto sócio-cultural em que cresceu; e
o desejo (wish), que é a representação sócio-cultural do desejo sexual. Isto é, significa o desejo de chegar a estar envolvido na experiência sexual, por isso, é independente do impulso e do motivo e está fortemente influenciado pelo contexto. As aspirações sexuais estão fortemente desenhadas pela tradição cultural, pelo momento histórico e pelos interesses das classes dominantes. O discurso social acerca da sexualidade estabelece o que pode ser desejado pelos homens e pelas mulheres.
Antes da puberdade não existe uma especificidade de sensações exclusivamente sexuais nem existem estímulos que tenham um significado claramente erótico-sexual. Na puberdade o desejo sexual manifesta-se com intensidade enquanto impulso. Aparece pouco a pouco de maneira consciente dirigido para outra pessoa, começam as primeiras fantasias eróticas, a atracção e a resposta perante estímulos eróticos. O desejo sexual orienta-se. Posteriormente, terão lugar primeiro experiências sexuais auto-eróticas e depois partilhadas. Segundo López e Fuertes (1999), no período da pré-adolescência e adolescência há três mudanças fundamentais:
o aumento da estatura e peso, maturação dos órgãos e sistema sexual e a capacidade de resposta fisiológica adulta face à estimulação sexual (as mudanças biológicas);
tornar-se capaz de formular hipóteses, raciocinar acerca delas e extrair as suas próprias conclusões, permitindo-lhe pensar acerca dos seus próprios pensamentos e orientar os seus afectos para determinadas ideias e valores e comprometer-se com alguns deles (mudanças psicológicas);
tornar-se capaz de se integrar no grupo de iguais, inicialmente unisexual mas que se vai transformando num grupo misto, que é uma referência constante para a sua própria identidade e que serve de suporte para um possível conflito com os adultos. Posteriormente, as novas necessidades afectivas e sexuais conduzirão à dissolução do grupo em favor da formação dos pares amorosos. Nos últimos anos da adolescência desenvolvem capacidades para a integração no mundo dos adultos.
Neste período, ocorre, também, como consequência destas mudanças, a especificação da orientação sexual. O adolescente começa a ter sensações a que dará um significado puramente sexual e determinados objectos e estímulos externos serão uma fonte de atracção sexual. Parece ser a etapa da vida em que o desejo sexual alcança a sua maior efervescência; a necessidade de procurar satisfação sexual e sentir-se receptivo a ela chega a ser mais poderosa que nunca e a orientação sexual começa a consolidar-se. A orientação sexual refere-se ao tipo de objectos pelos quais os sujeitos se sentem atraídos sexualmente e, portanto, face aos quais orientarão e dirigirão o seu desejo sexual. Deste modo, pode-se considerar as seguintes formas de orientação sexual: sentir-se atraídos sexualmente por pessoas do sexo oposto (heterossexuais); por pessoas do mesmo sexo (homossexuais); por pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto (bissexuais); não sentir desejo sexual (assexuais); e sentir-se atraídos sexualmente por objectos não humanos, animais, pessoas menores ou pessoas que não o consentem (parafilicas).
Até ao momento não se sabe o que desencadeia a homossexualidade, porque as emoções humanas e o comportamento são demasiado complexas para teoria simplistas. As teorias biológicas para explicar a orientação sexual aumentaram a sua importância nos anos 90. Alguns estudos ligaram o tamanho de várias partes do cérebro com a orientação sexual e outros mostraram uma maior concordância na orientação sexual dos gémeos do que nos outros irmãos. No entanto, segundo Byer e Shainberg (1994) não há diferenças nos cromossomas sexuais das pessoas homossexuais e heterossexuais e se existirem genes para a orientação sexual, provavelmente agem afectando o desenvolvimento pré-natal do cérebro. Tem sido publicada informação muito contraditória sobre o papel das hormonas sexuais na orientação sexual. Considera-se que as hormonas, nomeadamente na etapa pré-natal, podem afectar a evolução cerebral de modo que predispõem o indivíduo para uma determinada orientação sexual. Na psicanálise, tem sido veiculada a ideia que a homossexualidade é consequência de um sistema de relações materno- filiais ou paterno- filiais de alguma maneira patológico. Por outro lado, as teorias condutivas dão uma maior importância à aprendizagem, pois consideram que as fantasias e as condutas sexuais se associam a determinados reforços ou castigos o que levaria o indivíduo a inclinar-se para o tipo de orientação que lhe trouxesse maiores gratificações.
Em síntese, somos sexuados em todas as idades da nossa vida. A sexualidade é a maneira de estar em sociedade como homem ou como mulher, por isso, expressa-se de muitas maneiras, através de apertos de mão, conversas, carícias, beijos, abraços, relações sexuais, etc.. e, por essa razão, serve para comunicar, sentir ternura, fazer amizades, manter a saúde, obter prazer, reproduzirmo-nos, etc..
Os desejos, expectativas e interesses sexuais variam de mulher para mulher, de homem para homem e ao longo da nossa vida, por isso, devemos falar de sexualidades e não de sexualidade. A satisfação sexual depende da compreensão e do respeito pela outra pessoa e, para a conseguirmos, devemos aprender a colocarmo-nos na pele dos outros para compreendermos as suas perspectivas, isto é, devemos desenvolver a empatia nas nossas relações interpessoais.
Os indivíduos transexuais sentem persistentemente uma incongruência entre o seu sexo anatómico e a sua identidade de género. O seu sentir psicológico como macho ou como fêmea (a sua identidade de género) não é coerente com a aparência dos seus genitais e as suas características sexuais secundárias. Embora parecendo e sendo biologicamente masculino, o transexual masculino deseja mudar para uma anatomia feminina e viver como uma mulher. A transexual feminina deseja mudar e viver como homem. Há pouco acordo sobre as várias hipóteses que vão sendo colocadas para as possíveis causas da transexualidade. A associação entre causas biológicas e psicológicas parece ser a hipótese mais provável. Segundo Masters, Jonhson , Kolodny (1992) nos casos melhor definidos de transexualidade as pessoas têm uma longa história de vida em que se têm sentido psicologicamente diferentes da sua anatomia sexual e, tipicamente esse desconforto psicológico é parcialmente (mas só temporariamente) atenuado pela pretensão de ser um membro do sexo oposto desejado. Os investigadores referem que muitos transexuais descrevem ter tido muito interesse em vestir a roupa do outro sexo durante a infância e a adolescência. Em pelo menos alguns casos, a descoberta dos impulsos transexuais só ocorre na idade adulta. A psicoterapia tem sido geralmente mal sucedida na resolução das desordens básicas dos transexuais, que surgem por se sentirem presos num corpo errado. Por isso, os transexuais que são avaliados como autênticos têm sido incorporados em programas com acompanhamento psicológico que incluem cirurgias para mudar de sexo.
Os travestis não deverão ser confundidos com transexuais. Os travestis vestem a roupa do sexo oposto para se tornarem sexualmente estimulados, mas geralmente não querem mudar a sua anatomia ou aparência.
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